
Bruxas, Morte e Transformação
“Are you a good witch or a bad witch?”
Talvez por ter nascido no mês de outubro, talvez por ter tido uma infância cheia de referências mágicas, o “Dia das Bruxas” é a minha data favorita do ano!
O Halloween como conhecemos hoje tem origem no Samhain, festival pagão da mitologia celta que marca o fim do verão quando dizia-se que os mortos voltavam para suas casas em busca de abrigo do frio. Assim como no Dia de Los Muertos, que tem origem indígena e acontece em países da América Central e do Sul, as pessoas acreditavam que nesse período as barreiras entre o mundo físico e espiritual eram quebradas. No calendário cristão, os dias de Finados e Todos os Santos coincidem com as comemorações mais antigas. Seja para marcar o término de uma estação, seja para lembrar aqueles que já não se encontram entre nós, em diversas culturas sentimos a necessidade de ritualizar a morte.
Mal o sol entra em Escorpião, eu já posso sentir a energia bruxona no ar. Digo isso porque o oitavo signo do zodíaco nos fala muito sobre transmutação, e a relação entre morte e renascimento. Como a figura do próprio animal que de tempos em tempos deixa o seu exoesqueleto para trás sempre que este fica grande demais para ele. Marcada pelo Outono no hemisfério norte, com as folhas caindo das árvores, essa época do ano nos lembra a necessidade de fechar ciclos para que possamos recomeçar outros. E ninguém melhor do que as bruxas para nos ajudar nos processos de transformação.
A bruxa é poderosa porque ela é detentora de um saber. Ela conhece e aplica magia. E o que é magia senão a capacidade de criar e mudar tudo ao redor? Seja com um gesto de varinha, um encantamento, uma poção, ela transforma uma coisa em outra – ou até mesmo o nada em alguma coisa. Um piscar de olhos basta e ela faz aparecer uma torta no ar. Com alguns goles da taça, ela muda de rosto. Quem sabe apenas uma frase e ela está em outra cidade. Mas apesar das figuras nos livros de fantasia, a bruxa vive na capacidade criativa humana mais profunda, quando criamos a nossa própria realidade. E isso nos acontece sempre que saímos de um estágio para o outro quando pela nossa vontade mudamos de emprego, casa, relacionamentos, amizades, maneira de ser – ou de pensar.
Nessa alquimia do cotidiano vive um esforço mágico de observação, planejamento e ação que exige uma compreensão maior do ciclo da vida para utilização dele a nosso favor. A morte é uma etapa obrigatória para qualquer um que deseje seguir em frente. Tudo muda e quem resiste à mudança se perde no próprio caminho, fica para trás ou se desvia. Basta pensarmos que encerrar o que se está fazendo é fundamental para começar a fazer algo novo. Se alguma coisa chegou ao seu fim, que bom, significa que temos os caminhos abertos para novas possibilidades.
Uma boa bruxa sabe disso. Ela medita o desfecho e ritualiza a limpeza. Varre a casa para espantar maus espíritos, purifica o ar com incensos e toma banho de ervas. Não mede esforços em se livrar daquilo que não serve mais. Por isso, quando celebramos essa energia nos conectamos com a incrível capacidade da natureza e de nós mesmos de nos deixarmos morrer para renascer das cinzas, cada vez melhores.
Todas as imagens utilizadas nesse texto são do filme The Love Witch (2016), dirigido por Anna Biller.



